sábado, 13 de junho de 2009

O livro ( FIM )





Jonas não faz idéia do que acontecerá daqui pra frente. Não sabe o que desejar, não sabe o que esperar...
Letícia não lhe sai da cabeça. Mas ainda assim ele não consegue alimentar nenhum sentimento por ela. Sente-se culpado, pois gostaria de poder tentar... Calado ele pensa consigo:

- Será que valeria a pena procurá-la? Será que valeria a pena tentar gostar dela pra corresponder esse amor? ...Mas ela foi tão firme, tão segura quando me deu adeus. Acho que devo ficar onde estou. Posso magoá-la ainda mais se eu não conseguir amá-la. Poderemos nos frustrar...

O sol invade o quarto de Jonas. Ele abre as cortinas, abre a janela e dá 'bom dia' ao mundo lá fora.
Depois de um banho demorado, Jonas pega seu livro e sai com destino ao parque. Talvez seja isso que Jonas precisa no momento...Relaxar, esquecer o que lhe tortura à mente.
Passa na frente da casa da mulher da janela. Ele recorda sua mão, mão bonita, unhas escuras e um anel perceptível a metros de distância. Movido pela curiosidade, está determinado a ficar por ali, escondido em algum lugar até que ela saia da casa, na esperança de ver seu rosto. Fica em baixo do toldo, o mesmo toldo que lhe protegeu da chuva dias antes.


Depois de um longo tempo... Ninguém aparece, nenhum barulho se ouve vindo da casa, nenhum sinal de vida por ali. Jonas então cansado, segue seu caminho. Deseja voltar um outro dia com mais tempo. Chegando ao parque, senta-se em um banco à sombra de uma árvore. Abre o livro, começa a ler tudo novamente. Parece não cansar de reviver toda a história contada ali. É como se ele buscasse mais explicações. Insatisfeito com a impossibilidade de desvendar os mistérios do sonho associado ao livro, ele se entristece à cada minuto, mais e mais.


Seu semblante fechado permanece por mais tempo do que ele deseja. Determinado, Jonas decide que Letícia fez o que deveria ser feito. Seu sentimento de culpa por deixá-la ir na noite passada, se transforma em algo neutro e insípido, e passa a entender que foi a melhor coisa a ser feita.
Já é tarde e Jonas continua lá, observando tudo ao seu redor. Crianças andando de mãos dadas com seus pais, namorados se beijando, meninas gargalhando, jovens caminhando...


Ele continua triste... Abaixa a cabeça e fica abraçado ao seu livro... Logo depois escuta alguém falar:


- Tem horas?
Jonas permanece de cabeça baixa.
- Estou sem relógio.


- Ah, tudo bem! É... posso saber que livro é esse que você está segurando?


- O livro. De Ágata Nouren. Uma moça deixou em minha porta...


- Ahhh , eu já li esse livro...muito interessante.


- Fala sobre tanta coisa que estou tentando decifrar até hoje. E quanto mais tento, mais confuso fico. Bem, você conhece a autora do livro? Eu particularmente nunca ouvi falar.


- Mas você quer decifrar o quê? O livro fala apenas de um casal que se conhece, se apaixona e depois ela o deixa. Não é isso? O que eu sei sobre a autora é que esse foi o único livro que ela escreveu. E que logo depois da edição, ela entrou em depressão de tal forma que a levou cometer suicídio. Até hoje ninguém sabe se foi por causa do livro, ou se tinha algum problema pessoal... ( a moça senta-se ao lado de Jonas)


Jonas levanta o rosto, mas sequer olha a moça que está ao seu lado. Seu olhar fixa-se no gramado a sua frente...como se só aquilo existisse naquele instante e nada mais...


- Na verdade pra mim tem um significado muito maior. Porque antes de ler o livro, eu sonhei com a história contada no livro. Mas quanto à autora...Que história triste que você acaba de me contar!


A moça incorfomada ao ver Jonas ali tão imóvel e aparentemente tão frágil. Não hesita em perguntar:
- Então é por isso que você está assim ? Realmente é muito estranho isso... Eu entenderia se você tivesse sonhado depois de ler o livro. Mas... antes???!!!


- É realmente muito estranho. Não seria tão intrigante se eu tivesse sonhado depois de ler o livro. Mas me diga, estou assim como?


- Assim...triste, vago. (Fala a moça sem deixar de olhar Jonas)


- Só estou confuso, apenas confuso. Eu nem deveria estar aqui agora. Eu deveria ter ido ao trabalho. Mas não. Estou aqui tentando descobrir coisas que jamais irei descobrir.


- Sinceramente, acho que se você está aqui é porque deveria estar. Eu penso sempre assim! Hoje por exemplo, eu também não fui trabalhar e estou aqui. É a primeira vez que venho a esse parque e tudo aqui é tão lindo! De repente parei e estou aqui conversando com você e mentiria se dissesse que não estou gostando de estar aqui.


- É, acho que você tem razão...


Jonas, move-se lentamente, olha para a mão da moça apoiada no banco próximo a sua perna. Pele clara, unhas escuras e um anel... Um anel que Jonas lembra ter visto antes e que não demora muito pra recordar exatamente o momento e o local. Por um instante ele fica ali parado, sem saber o que fazer ao certo. Será a mulher da janela que tanto Jonas queria ver? Ele tem medo, tem medo de olhá-la, medo de se decepcionar, medo de não entender, medo de se frustrar...medo de tudo. Ele de certa forma criou expectativas e esperou muito por esse momento. O de finalmente ver o rosto da mulher da janela. Agora ela está ali ao lado dele e isso é inadiável. Não há como fugir.


- Você está bem? Seu livro caiu... (Fala ela inclinando-se para juntar o livro do chão)


A moça entrega o livro nas mãos de Jonas. Ele está trêmulo e pálido. Respira fundo e finalmente olha para o rosto da moça. Fica perplexo, imóvel por alguns minutos. A moça automaticamente o olha e encanta-se ainda mais com Jonas. Ambos ficam se olhando por um bom tempo. Jonas toma a liberdade de segurar a mão dela, olha minuciosamente seu anel e tem absoluta certeza de que é realmente a mulher da janela... A mulher da janela de vidro.


- É você... (Diz ele em voz baixa)


- Eu o que?


- Você é a moça da janela de vidro. Há dias quis ver seu rosto. Mas era impossível. Você sequer me dava uma chance de olhá-la... Jonas está com um sorriso "desesperador" estampado em seu rosto.
- Anda me espionando? Você sabe quem eu sou?

- A vi numa noite de chuva , passando pela janela... Mas não conseguia vê-la nitidamente e desde aquele dia, ver seu rosto foi uma das coisas que mais desejei.

- Hum. E agora que viu, o que sente? Qual é a sensação de uma curiosidade acabada? O que você vê em meu rosto? Você está pálido. Parece assustado com o que viu.

- Sinto que minha alma está leve. Minha curiosidade não acaba aqui, ver seu rosto é apenas o começo de tudo que eu busquei. Não estou assustado, estou encantado... Seus olhos, seu sorriso, sua boca... Você é linda!

- Fala como se já me conhecesse, como se já tivesse me visto antes.

- E conheço. É você a moça que aparece no meu sonho, a que eu procurei desde que sonhei. A moça que viveu a história do livro comigo e que me deixou no final sem explicação alguma...E é por isso que eu fiquei assim, impactado.

- Era eu no seu sonho? Você tem certeza disso? Então estava me procurando?

-Nem sei o que dizer, é confuso demais, é absurdo demais. Só sei que era sim você no meu sonho e quem procurei esse tempo todo. De repente você me aparece e é como se eu não estivesse preparado. E nunca estaria! E algo me pede pra que não deixe você ir novamente.

- Sou a moça do teu sonho...

- Sim. É você a doce menina que sorria a cada final de uma frase dita, que me olhava com ternura e que me deixava sempre sem respostas. Sabia que naquela casa na noite de chuva, tinha algo reservado pra mim. Era você.

- Não quero...

- O que você não quer?

- Fugir de novo. Não quero fugir de novo...

A moça o olha , sorri e aproxima-se. Fica mais perto o quanto pode. Jonas toca suavemente seu rosto e num leve suspiro a beija. O beijo mais puro e desejado que sua boca já beijou. Jonas a toma em seus braços como quem não espera ver o fim desse momento tão esperado. Mesmo sabendo que esse momento é apenas o começo de tudo. Se olham... E esse olhar é apenas um de tantos outros olhares.
- Prazer, me chamo Giovanna. Ou me chame como quiser... (rs)

- Como Adriana? Marina? Vitória? Izadora? Hahaha.

- Como quiser. O nome não importa. Independente de nome eu serei sempre esta que você está vendo. (rs)

- Haha. Me chamo Jonas. Mas pode me chamar de "homem robusto e questionador". (rs)
FIM