quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Uma viagem intergalática IV


Apesar de Leson não ter tido uma proximidade maior com Frida quando ainda estava em Leiusk, Haustino de certa forma estreitou os laços entre eles apesar de toda a distância. Como Haustino vivia praticamente mais na casa de Frida do que o inverso, naturalmente se fez necessário que Leson passasse a ligar para a casa dela para poder falar com Haustino. E com tantas ligações propositais, Leson logo tornou-se amigo de Frida.


Em Plutão ele não saberia muito bem o que fazer, nunca estivera pessoalmente com Frida. Embora muito determinado a vê-la, sua timidez e insegurança eram uma espécie de escudo que o impedia de ser natural e isso lhe causava um baita medo. Fora isso, ainda tinha nas lembranças a imagem de seu amigo Haustino todo empolgado falando de Frida com paixão inigualável.


Leson sabia que não seria errado obedecer seu coração. Até porque naquelas 'alturas do campeonato', Haustino e Frida nem estavam mais juntos mesmo! Ainda assim, ele não queria ser mal interpretado por nenhum dos lados. Então respirou fundo e tentou ser apenas um amigo leal. Prometeu a si, não engasgar-se ao falar, nem desviar o olhar quando a olhasse, nem perguntar muito sobre seu relacionamento com Haustino, nem fazer planos... Enfim, resolveu não fazer quase nada, apenas estar com ela.


Após alguns ‘din-dons’ na campainha, Frida nem quis acreditar que quem estava ali diante dela era o intelectual e tímido Leson. Convidou-o para entrar, ofereceu-lhe um chá e pediu ajuda para sovar uma massa para fazer pão caseiro. Leson ainda sem jeito e perdido sem saber como agir por desconhecer seus gestos, seus sorrisos, seus modos de dirigir-se à outrem, simplesmente encarou o novo como um desafio sem dar muita ênfase nos detalhes para parecer que tudo era normal, embora soubesse que ela sabia que não seria normal NUNCA. Porque mesmo Leson não conhecendo o jeito fácil e desinibido de Frida pessoalmente, ela sabia exatamente tudo sobre ele e era como se ela de algum modo, já tivesse convivido com ele.


No calor da emoção de sovar a tal massa de pão, Leson viveu aquele momento como um dos momentos mais importantes da sua vida. É sério!!! Feito criança brincou com Frida como nunca mais havia feito desde sua infância. Fizeram uma 'zona' na cozinha, sovaram, sovaram, sovaram e por fim colocaram de modo muito desorganizado a forma de pão no forno.


Enquanto o pão era assado, Frida ligou a TV, indicou alguns filmes a Leson e pediu licença para tomar um banho. Mantiveram um diálogo à distância, Frida no banho e Leson na sala. Timidamente perturbado em saber que conversava com uma mulher nua embora não a visse, “tremia nas bases” só de imaginar. Depois do curto momento de tensão, Frida apareceu com seu menor shorts, batom vermelho na boca impecável e uma blusinha azul marinho. Frida era provocante e não fazia questão nenhuma em ser muito discreta quando o que queria realmente era chamar atenção. Leson não fazia muito seu tipo mas ela via em seus olhos um desejo varonil e real. E isso era basicamente o necessário para atingir seu ego mais profundo.
As coisas não se estenderam muito. Lancharam naquele dia, comeram o pão que por sinal estava saboroso e macio, combinaram um passeio no final de semana e despediram-se.


Fazia três dias Leson não atendia as ligações de Haustino. Fugia desesperado do telefone, como o diabo foge da cruz. Afinal o que diria? E quanto lhe fosse questionado sobre as novidades? O que deveria de fato responder? - " É cara, fui à casa de Frida, ela me ofereceu chá, fizemos pão caseiro juntinhos, conversei com ela pelada, depois saboreamos o pão que estava gostoso e macio como a pele dela e combinamos um encontro pro final de semana, só isso! " – Leson irritou-se ao imaginar isso e deu um tapa em sua testa como quem dissesse: “ seu otário!”.


Contando os dias, ansioso pra ver Frida novamente, Leson tentava, como um menino imaturo e inexperiente, decorar algumas frases prontas e imaginar o que faria. Não sabia se lhe daria flores, se levaria algum chocolate, se levaria alguns filmes... Ele nem sabia para onde iriam e isso dificultava absurdamente todos os seus planos. Lembrou que conhecia alguém muito legal que certamente poderia ajudá-lo, Jekeily. Mas Jekeily ao saber o assunto não se moveu nenhum pouco a socorrê-lo e disse que estava muito ocupada tentando esquecer quem nunca se lembrava dela. Leson engoliu a seco o desprezo de Jekeily e tentou entender o que não havia entendido, imaginando que quando uma mulher age assim é porque quer apenas ficar sozinha. Então respeitou e tentou de outro modo continuar seus planos nada intelectuais.


(continua...)