sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Comprimido


Não saberia dizer ao certo o que me fez tomar aquele comprimido.
Lembro que deitei, adormeci e sonhei...
Tive quatro sonhos com a mesma pessoa em circunstâncias diferentes
E vivi intensamente dentro de cada sonho.
O estranho é que eu sabia que estava sonhando,
Então eu mudava tudo que provavelmente iria acontecer, conforme minha vontade.
Sem medo de fazer o que queria, eu me sentia liberta,
Afinal sabia que acordaria a qualquer momento...
E tudo não passaria de um sonho.
Mas o tempo estava passando e o sonho ficava melhor a cada momento,
Então eu pensava: abrirei os olhos devagar quando tiver certeza que quero acordar.
E já no 4º(quarto) sonho eu me sentia nas nuvens,
Era como se eu estivesse, solta no ar..., livre de tudo.
Sentia-me leve, sentia-me eu..., sentia-me assim,
Meio pluma, meio algodão...
De repente... acordei e vi plumas e algodão ao meu redor.
Meus travesseiros estavam rasgados, minha cama parecia uma nuvem gigantesca.
Estava tão compenetrada nos meus sonhos que a cada obstáculo vencido,
a cada porta aberta, eu rasgava almofadas, travesseiros e os lençóis inconscientemente.
Ao meu redor, tudo parecia em perfeita desordem e pacificação ao mesmo tempo.
Não saberia explicar, mas eu sabia que tudo fazia sentido pra mim.
Olhei para o lado, e logo vi na parede um quadro...
Estava virado de cabeça para baixo.
A princípio fiquei sem entender, depois vagarosamente levantei-me da cama,
Posicionei minhas mãos sobre os joelhos e inclinei-me para melhor visualizar o quadro.
Era uma pintura divina, cenas minúsculas se passavam em todo ele,
Então percebi que todas as cenas pintadas ali, exatamente todas, fizeram parte dos meus sonhos.
Pude reviver cada cena, mesmo estando ainda em estado de “choque”.
Depois fiquei na posição normal e automaticamente sentei-me na beira da cama.
Pensei: O que se passa? Estou no meu quarto mesmo ou ainda estou dentro de um sonho?
Eu senti medo de repente, um arrepio tomou conta do meu corpo inteiro,
Não sabia o que se passava, só sabia que nada daquilo parecia um sonho,
E tudo era muito absurdo para ser real.
Queria correr, mas minhas pernas não se moviam,
Queria gritar, mas minha voz não saía da boca,
Queria sumir, mas não era possível, então ali só podia olhar e ouvir.
Vi e ouvi a porta abrir. Vi e ouvi alguém me chamar.
Era a pessoa com quem havia sonhado a noite inteira.
Meu coração queria sair pela boca, mas não era possível, pois nem a voz sequer saia.
E tive que ficar ali, parada esperando o teto desabar sobre minha cabeça,
Fechei os olhos, lágrimas caíam, eu achava que era o fim de tudo...e somente esperei o fim.
Foi quando de repente, senti-me tocada nos braços, depois nos ombros, depois na nuca...
Eu continuava de olhos fechados.
Senti minha boca tocada, depois meu rosto, depois meus cabelos...
Eram toques suaves, toques que realmente tocam.
Eu já não queria sumir, queria apenas me assumir, me entregar...
Então abri os olhos e me vi ali diante dele, eu não queria dizer nada,
Eu não queria falar de mim nem perguntar nada,
Queria somente olhá-lo, olhá-lo e olhá-lo.
Nos olhamos por minutos intermináveis e um desejo tomou conta de mim,
Deitei-me lentamente sobre a cama e fiquei olhando pro teto,
Minha cama mesmo não sendo redonda parecia girar e girar.
Fiquei tonta e pronta para tocá-lo e falar de coisas jamais ditas pela minha boca.
Nos tocamos e nos entregamos, como se faz um verdadeiro casal apaixonado,
Mas a única coisa que nos diferenciava de todos os casais apaixonados
Era exatamente o fato de sabermos que não estávamos apaixonados.
Na verdade eu nem sei o que é paixão, nunca me senti apaixonada,
Nunca vi ninguém se apaixonar por mim,
Mas sei sinceramente o que é não estar apaixonada.
Hum,... mas paixão não me faz falta, o que me faz falta é a ausência da libido...
Isso sim me faz falta, pois sem desejo tudo se morre, tudo desaba. Tudo se enfraquece.
Um homem apaixonado não sai do quarto depois de uma transa sem dizer nada!
Não, acho que não, isso é incomum...
E foi exatamente o que ele fez, possuiu cada parte do meu corpo, e...
Simplesmente se foi, sem dizer nada... simplesmente se foi.
Mas aquilo não me importou, afinal todos os homens que passaram na minha vida fizeram isso,
Se foram sem dizer “adeus” ou aos menos dizer: “foi bom”.
E novamente fiquei ali intacta, sozinha na companhia de mim mesma,
Com um filme passando na minha cabeça,
Querendo entender tudo, e me fazendo mil perguntas,
Perguntas que ninguém saberia responder...
E mesmo se respostas houvessem eu sequer entenderia.
Afinal o que estou fazendo aqui?
Estou viva? Estou morta? Quem sou na verdade?
Os espíritos parecem andar sem rumo pelo quarto e as almas parecem gritar.
Queria entender porque sempre tem que ser assim,
Busco respostas e nunca encontro,
Busco a mim mesma e me desaponto,
E lamento sempre quando na verdade eu deveria correr...fugir ou enfrentar.
Quando deveria pensar no que me convém, não no que simplesmente vem à cabeça,
Pensar no que me faz bem, não no que pode vir a dar certo um dia.
Eu sou assim, prisioneira de mim mesma,
Amante de um amor demolido.
Sinto-me um pouco tonta ainda, talvez esteja na hora de descansar,
Deixar meu sorriso se desarmar junto a um calor que navega sobre meu corpo ainda...
(As lembranças são boas, não tenho como negar)
Mas queria, queria tanto, olhar pra dentro de mim e acreditar no que sou,
E deixar de sentir saudade do que fui um dia,
Voltar à normalidade exata da terra, do vento e do mar.
Já são 13:00 h do dia 13.13.2013 e talvez deva tomar mais um comprimido,
Pois sonhar faz mais sentido que viver dores nesse quarto escuro.
Enfim, ser invisível... Enfim eu, “inexistente” e contente por estar sempre acompanhada de mim apesar desse martírio sem fim.

3 comentários:

  1. Começo,Meio e Fim muito bom!!
    So vindo de uma pessoa brilhante que nem vc.
    Esta de Parabens more.

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  2. simplesmente fantástico
    pensei que nõ chegaria ao fim, mas tudo me prendeu e ao chegar no final queria mais
    parabéns mesmo!

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