quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Medo


Não moro no fundo do poço, moro num poço vazio...
E aqui não temo o frio, só temo a dor.
Não vivo só na solidão, a solidão mora comigo...
E aqui não vejo morcegos, vejo dentes afiados prontos a me devorar.
Eu tenho medo, mas ainda tenho a mim.

O vento não vem contra mim, eu corro sempre atrás dele,
A lágrima que sai... não vai ao chão, ela percorre todo meu corpo,
É simples imaginar as pessoas longe do meu plano,
Difícil é entender porque nada faz sentido.
Eu tenho medo, mas ainda tenho a mim.

As árvores dançam com a canção que a chuva faz,
Não ouço os trovões, ouço as emoções soltas no ar,
Eu adoraria ver o sonho chegar e dizer: Que bom!
Loucura é viver pro futuro e lembrar do que passou,
Loucura é dizer amar alguém que nunca amou.
Eu tenho medo, mas ainda tenho a mim.

Não escuto o silêncio, o silêncio sou eu de fato,
Meus olhos se fecham e ainda assim me vejo,
Meu interior carregado de dívidas de acerto com o passado.
Escrevo meu nome e vejo quem o chama,
Deveria ir sem medo de voltar.
Eu tenho medo, mas ainda tenho a mim.

Opiniões contrárias às minhas, soam como invasão,
Mãos ao alto para mim é opressão,
Meu desejo se morre no túmulo de alguém,
Duas faces ocultas me destinam ao desprazer...
De enterrar-me na terra com seu sangue no olhar.
Eu tenho medo, mas ainda tenho a mim.

Meu choro me afronta, meu sorriso se vai,
Nada peço, odeio cobranças,
Retomarei meu ar, que tanto desejei respirar.
As flores murcham como frutas apodrecidas no jardim,
Eu deito-me em espinhos e encolho-me perdendo todas as forças.
Eu tenho medo, mas ainda tenho a mim.

Lembrar de algo que nunca fui, faz-me viver um pouco mais...
Olhar pro céu, toma-me a alma,
Levito em saudade e mordo-me arrancando toda minha pele,
Esta por sua vez, revestida de rancor por ter sido tocada um dia,
Eu deveria olhar ao redor e gritar pro mundo saber da minha existência.
Eu tenho medo, mas ainda tenho a mim.


Sentir-me assim dá nojo de mim mesma,
Se o sentido da vida se chama família, por que me traz indignação?
Eu me solto num campo bonito, em sonhos perdidos dentro de mim,
A lua que vejo mais parece uma desordem ilusória “bonita” a brilhar,
Meus passos eu não os vejo, os sinto pisarem sobre mim,
Meu corpo perde a carne, e os ossos tornam-se visíveis.
Não tenho medo da morte, tenho medo de mim.

2 comentários:

  1. Eu queria pelo menos ter a capacidade p/fzer pelo menos um pequeno trecho,mais vc eh simplismente uma Cecilia Meireles.

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  2. Nara vc é mesma surpreendente, a cada dia vc se descobre e isso é fantástico p sua realização pessoal e com certeza p pessoas q torcem por vc p a cada dia nos proporcionar coisas boas através de suas mãos e agora com suas palavras. Parabéns... Um grande beijo.

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